Portugal está seguro
Resultados e momentos diferentes, mas as duas equipas portuguesas seguem seguras para o play off da Champions.
Enquanto o primeiro-ministro Luís Montenegro brinca em direto nos telejornais, manipulando a população infestada pelo discurso da extrema-direita e dos tablóides, o Benfica de Bruno Lage voltou a demonstrar que a Europa não é para brincadeiras. No entanto, o futebol é muito como o mundo para quem está sentado num sofá, mandam as sensações e não os números, acontecimentos que estão ligados parecem desconexos e no final de uma partida onde se viram erros por toda a parte, o Benfica soma uma vitória e Bruno Lage gritou caralhos para motivar uma nação benfiquista que sempre se ofereceu muito mais à emoção do que à razão. Razão que terão os adeptos do Sporting que ficaram apreensivos no dia em que Ruben Amorim disse ter que seguir a sua carreira em Inglaterra. No primeiro teste de exigência, João Pereira deixou alguns sinais de preocupação. Não que o Sporting esteja mais fraco, não está. A pontuação na Liga dos Campeões permite olhar o apuramento com segurança. Mas alguma coisa mudou em Alvalade.
Sem gala no Mónaco
Os primeiros vinte minutos de jogo no Estádio Louis II assustaram. O Benfica voltava a ser curto em palco europeu, enganado na forma de encaixar no adversário, ultrapassado no seu meio-campo, exposto na linha defensiva, como alguém que chegou para o teste de Química com as notas de Geografia na cábula. Tem sido essa a imagem mais habitual dos encarnados de Bruno Lage no palco europeu. O Monaco, jovem e confiante, passeava, marcava, dava espetáculo. O Benfica, com bola, começava a dar sinais de conseguir competir. Mas as transições defensivas eram um filme de terror que só a atuação benévola da equipa da arbitragem segurou o Benfica com onze jogadores, depois de uma entrada duríssima do já amarelado Carreras.
A vitória chegou dramática, mas aliviou o quadro do apuramento para o play off da Liga dos Campeões.
A primeira parte não foi boa. A segunda parte foi caótica. Os encarnados aproveitaram uma oferta para empatar, já depois do Monaco ter atirado uma bola ao poste, e a expulsão de Singo deixou o campo aberto para uma reviravolta. À passagem da hora, com menos um monegasco em campo, os dois treinadores mexeram para preparar tropas. Mesmo em desvantagem numérica, o Monaco marcou e o Benfica parece ter demorado vinte longos minutos para perceber que arrumando o seu jogo em posse poderia ter hipóteses de fragilizar o adversário. Num jogo de rasgos, o talento dos encarnados brotou dos pés de Di Maria, com dois cabeceamentos vindos de homens que começaram no banco, enquanto na defesa Tomás Araújo voltou a provar o seu valor. A vitória chegou dramática, mas aliviou o quadro do apuramento para o play off da Liga dos Campeões.
A primeira impressão
Se só temos uma oportunidade para causar uma boa primeira impressão, o treinador João Pereira falhou a estreia na Liga dos Campeões. As atenuantes são conhecidas. A qualidade do adversário, que chegou a Alvalade avisado para o poderio do Sporting e pressionado a vencer. O facto de muitos antes de ele terem também acabado goleados em situações semelhantes. A boa posição da equipa na classificação, livrando-se de pressões quanto ao apuramento. Mas para João Pereira o problema não é só tático, sendo que nesse território terá até a vantagem de ter em mãos uma equipa feita, rodada, em pleno controlo das suas capacidades. O primeiro sinal de mudança que trouxe para o jogo foi o lançamento de Marcus Edwards como titular. O inglês não era titular em jogos de maior responsabilidade deste abril, quando defrontou a Atalanta. Esta época, só tinha sido titular frente ao Nacional, saindo ao intervalo. Se João Pereira não se perguntou a razão de tal, ficou a saber pela exibição do inglês em campo.
Os erros de um treinador ultrapassam-se. As hesitações de quem não sabe como ser o treinador não.
Os desafios de João Pereira prendem-se com a forma como ocupar o lugar para o qual, disse Frederico Varandas, se vinha preparando desde que regressou ao Sporting enquanto treinador. No discurso, o técnico parece ainda apresentar-se como um visitante, custando-lhe “pegar” a liderança do conjunto leonino. A frase forte da noite veio, mesmo, do capitão Morten Hjulmand, enquanto na sala de imprensa o treinador vagueava por explicações incompletas, dificuldade em identificar erros, má gestão dos termos utilizados. João Pereira sofrerá sempre por comparação com Ruben Amorim, tal como ocupa um lugar com um nível de exigência que dificilmente se coaduna com estreantes na função. Mas precisa rapidamente de deixar de hesitar sobre o que fazer na posição que é sua de plena direito. Os erros de um treinador ultrapassam-se. As hesitações de quem não sabe como ser o treinador não.