Dar a cara não é uma questão de atitude
No regresso às competições europeias, olhar sobre os problemas do FC Porto, a estreia de João Pereira e os desafios dos portugueses na Europa.
Em Moreira de Cónegos, após o final da partida, Vítor Bruno acorreu junto da marca de penálti na área mais próxima à bancada onde estavam os adeptos do FC Porto, oferecendo a sua face para os protestos mais empolgados. Mais tarde, fora do Estádio do Dragão, André Villas-Boas e Jorge Costa procuraram falar com outros adeptos que protestavam, voltando a dar a cara aos insultos. Acontece que os adeptos que protestam com maior veemência, com o direito que lhes é devido, representam um discurso que no derradeiro ato eleitoral teve apenas 20% dos votos dos associados do clube. Dar a cara ao passado não fará nada pelo futuro do Futebol Clube do Porto. Questionar a atitude da equipa, muito menos.
O futebol detido no ato tático
O discurso de Vítor Bruno aumenta intensidade dramática ao mesmo ritmo que os resultados não aparecem. Não é, no entanto, a velha e famosa falta de atitude que pesa nos problemas desportivos do FC Porto. Em Moreira de Cónegos isso voltou a ficar claro. A equipa carece de agressividade nos vários momentos do jogo. Por agressividade, entenda-se a capacidade de ocupar espaços e de os atacar, com e sem bola, de maneira a condicionar a atuação do adversário. Os melhores momentos do FC Porto de Vítor Bruno dependem muito de um Samu inteligente a aproveitar espaços livres e com uma capacidade de finalização acima da média. A partir do momento em que as movimentações do ponta-de-lança espanhol foram identificados, a equipa voltou a ficar orfã.
O renascimento do FC Porto não se fará com um treinador que não compreende os seus erros, nem com adeptos que estão presos no passado.
A grande vitória de Vítor Bruno esta temporada aconteceu num momento de demonstração de vida. Um péssimo planeamento de entrada na Supertaça foi compensado com a necessidade de todos (treinador e jogadores) darem uma prova de vida. A partir daí, os jogos de maior exigência demonstraram sempre um FC Porto aquém das expetativas mais elevadas, próximo de uma equipa em reconstrução e transição, que sofre pesadamente de um crivo crítico que imagina que o tempo não passou e Pinto da Costa ainda é o todo-poderoso presidente do FC Porto do início do século. Passaram muitos anos, cometeram-se muitos erros, e o renascimento do FC Porto não se fará com um treinador que não compreende os seus erros, nem com adeptos que estão presos no passado. Frente ao Anderlecht, com a qualificação da Liga Europa em jogo, joga-se mais uma final.
A segunda primeira vez de João Pereira
O jogo da Taça de Portugal frente ao Amarante serviu para quebrar o gelo, mas todos percebiam que um adversário da Liga 3 não seria a primeira estreia a valer para João Pereira. Perante o Arsenal, os exigências serão completamente diferentes. É pena que não se tenha podido ouvir o “de facto” treinador leonino antes do jogo da Taça, porque o acerto das palavras de Tiago Teixeira não têm o mesmo efeito. O adjunto apontou o evidente: se não há Ruben Amorim em Alvalade, as decisões não serão as mesmas. É no campo da decisão que o novo treinador terá os seus maiores desafios e até poderá perceber o que vai acontecendo com Vítor Bruno para compreender os problemas que enfrentam os treinadores precocemente lançados em equipas grandes.
Uma equipa dos jogadores pode ser uma realidade suficientemente sólida para continuar a dar ao Sporting o pendor ganhador que vem apresentando.
Um Sporting - Arsenal seria um jogo sem grandes responsabilidades para os leões, não fosse o contexto do clube aquele que hoje se vive. Os últimos resultados do Sporting de Amorim, com a vitória expressiva frente ao Manchester City, transforma a posição da equipa na Liga dos Campeões. A sua saída coloca demasiado foco na prestação de João Pereira. A tudo isso os jogadores têm transmitido uma imagem de que passam incólumes às transformações no comando técnico. O próprio Amorim já tinha deixado no ar a ideia de que os jogadores eram hoje capazes de tomar decisões sem que estas necessitassem da aprovação do técnico. Uma equipa dos jogadores pode ser uma realidade suficientemente sólida para continuar a dar ao Sporting o pendor ganhador que vem apresentando.
A Europa não fica por aqui
O Benfica goleou o Estrela em jogo da Taça e tem partida decisiva na Liga dos Campeões. No Mónaco, só a cara mais livre e ofensiva pode valer aos encarnados o crédito de acreditar no sucesso.
O SC Braga recebe o Hoffenheim, num jogo particularmente difícil tendo em conta o contexto na Liga Europa. A equipa de Carlos Carvalhal convive em todos os jogos com as suas próprias fragilidades, mas manter a via europeia em aberto é essencial para manter esperança.
Três jogos e três vitórias transformam o Vitória num potencial candidato a chegar longe na Liga Conferência. Mais longe do que Almaty, a 8345 quilómetros de distância de Guimarães, não poderia ser. Para a equipa de Rui Borges, transformar o desgaste da viagem em mais uma vitória é o objetivo.
Há mais para ver
O rescaldo do jogo entre Moreirense e FC Porto, feito ontem na SIC Notícias, está disponível aqui.