Uma promessa açoriana
A entrada do Santa Clara na nova temporada faz antever a capacidade de regressar à primeira metade da tabela da Liga Portuguesa. O treinador Vasco Matos estreia-se em alta.
Depois de conquistar a Segunda Liga na época passada, o Santa Clara entrou da melhor forma na nova temporada, comprovando nas jornadas inaugurais ter potencial para ser uma equipa da primeira metade da tabela. Vasco Matos estreia-se como treinador na divisão principal, mas o seu percurso e ideias permitem-lhe demonstrar uma grande capacidade de controlo da sua ideia de jogo. Com vitórias frente a Estoril, Casa Pia e AVS, os açorianos perderam apenas na receção ao FC Porto, num jogo onde poderão ter tirado ilações para o desafio deste sábado frente ao Benfica, na Luz.
Sinais de consistência
Para quem acompanhou a passagem meteórica do Santa Clara pela Segunda Liga, o que a equipa açoriana apresenta hoje não é surpresa. Ficou desde cedo evidente que o Santa Clara tinha demasiada qualidade para uma divisão secundária e a forma como a equipa entrou preparada para os desafios frente a conjuntos com algum andamento na divisão principal ajudou a confirmá-lo. No fundo, a equipa açoriana apresenta sinais de consistência no processo adotado. Jogadores como Gabriel Batista, MT, Adriano Firmino ou Gabriel Silva têm agora uma maturidade que lhes faltava há duas épocas. Lucas Soares, Luis Rocha, Frederico Venâncio, Pedro Ferreira e Allisson Safira confirmam-se como elementos de primeira.
A riqueza do plantel açoriano será um dos pontos-fortes onde a equipa se baseará para fazer o seu caminho nesta temporada. Sendo certo que o sucesso de alguns destes elementos poderá fazer com que o mercado de janeiro acabe por ser agitado.
Essa consolidação do plantel, com potencial de rotação em jogadores como Calila, Ricardinho, Klismahn e João Costa, e ainda com a chegada de alguns reforços no limite do fecho do mercado, dotam Vasco Matos de soluções de sobra para desenhar o seu jogo e responder às capacidades dos adversários. A riqueza do plantel açoriano será um dos pontos-fortes onde a equipa se baseará para fazer o seu caminho nesta temporada. Sendo certo que o sucesso de alguns destes elementos poderá fazer com que o mercado de janeiro acabe por ser agitado. Algo que a administração da SAD terá que ter em conta para evitar casos semelhantes de quebra de desenvolvimento após um sucesso inicial.
Como joga o Santa Clara
Dotada de uma linha de três centrais que cresceu com a inclusão de Luís Rocha após o jogo frente ao FC Porto, o Santa Clara tem uma forte capacidade de aproveitar a largura do terreno com dois laterais que já se haviam mostrado na Liga Portuguesa. Lucas Soares à direita e MT à esquerda são elementos com forte capacidade ofensiva, dando profundidade ao jogo pelas faixas. Na zona do meio-campo, os dois elementos centrais são pêndulos para assegurar a mobilidade do trio da frente. Se Allisson Safira surge mais como referência, com ricos movimentos de 9 quer na procura de envolvimento, quer no ataque à área, a dupla que o acompanha na frente planta o desassossego, sobretudo através do omnipresente Gabriel Silva.
Os princípios ofensivos do Santa Clara tendem a impor a velocidade na procura da conjugação entre laterais e avançados, com os açorianos a conseguirem sempre muitas situações de igualdade ou superioridade numérica dada a forma como conseguem lançar-se rápido na frente. Apesar disso, a equipa tende a disputar a posse de bola, algo que só não foi capaz de fazer com equilíbrio no jogo frente ao FC Porto. Será dessa partida que os açorianos mais terão a aprender para o jogo deste sábado. A verdade é que o Santa Clara, na primeira parte, criou oportunidades suficientes, ao nível dos jogos com outros rivais, para marcar e discutir o jogo. Só na segunda parte, e sobretudo a partir da expulsão de Adriano Firmino aos 65 minutos, a equipa acabou por decair na produção ofensiva.
Aproveitar a oportunidade é um sinal que o Santa Clara não pode desligar nos jogos contra os grandes. Mais empurrado para defender junto da sua área, onde arruma uma linha de 5 reforçada com a descida de um dos avançados para junto da dupla de médios-centro, a equipa acaba por carecer de mais referências para sair rápido para o ataque. No entanto, desde a derrota frente ao Porto, Vasco Matos já teve condições para melhorar o posicionamento da sua equipa. Na saída de bola adversária, o Santa Clara tenta ocupar espaços no meio-campo ofensivo, mas é, ainda assim, uma equipa que se remete a um bloco médio, de maneira a não ser surpreendida pelo adversário. Essa será, por agora, uma nota de realismo na forma como a equipa se comporta. Ciente das suas capacidades, mas focada em não cometer deslizes.
O percurso do treinador Vasco Matos
Internacional jovem português formado no Sporting, Vasco Matos não confirmou como jogador profissional o potencial que chegou a ser-lhe atribuído, passando grande parte da sua carreira na Segunda Liga, onde fez 268 jogos. Junta-se a infelicidade de, nas duas épocas passadas na Liga Portuguesa, com Vitória de Setúbal e Beira-Mar, ter acabado por descer em ambas. A sua carreira de treinador teve dois períodos como adjunto que lhe terão concedido boas oportunidades de crescimento, com Filipe Coelho no Leixões e no Vilafranquense e com Filipe Martins no Casa Pia. As experiências como principal na equipa de Vila Franca de Xira e no Alverca ficaram para trás, mas quando pegou no Santa Clara a época passada fê-lo como se nunca tivesse deixado de estar ao leme dos seus conjuntos.
A forma como o Santa Clara se apresenta em jogo é também reflexo de todas estas aprendizagens assumidas ao longo dos anos.
Toda esta experiência e percurso tornam Vasco Matos um interessante caso de estudo. Desde a escola de jogador, a uma carreira de profissional que o levou a experimentar por diversas vezes situações de exigência mental muito alta. O percurso de treinador também faz adivinhar um interesse pelo desenvolvimento pessoal, com os tais passos à frente e atrás nas equipas técnicas onde esteve. A forma como o Santa Clara se apresenta em jogo é também reflexo de todas estas aprendizagens assumidas ao longo dos anos. Perante um teste de exigência alta no Estádio da Luz, ainda para mais frente a um Benfica que chega de uma chicotada psicológica, Vasco Matos terá uma grande oportunidade de comprovar que tudo aquilo que viveu lhe permite encontrar respostas até para os momentos mais complicados de uma equipa que sonha voar como o Açor.