Que Lage é esta?
Bruno Lage foi apresentado como treinador do Benfica e a sua missão é digna de super herói. Salvar a temporada do Benfica e o devolver um rumo à direção em ano eleitoral.
Pede-se demasiado aos treinadores. É por demais evidente que isso está sempre a acontecer. Seja porque dos treinadores se esperam milagres que, por definição natural do futebol, eles não podem conceder, seja porque nos treinadores se focam todos os pesos do que pode andar errado na estrutura de um clube. No dia do regresso de Bruno Lage ao Benfica, a questão só pode ser esta. Será um Lage que sustenta ou um Lage que cobre?
Uma parceria de necessitados
Rui Costa precisava urgentemente de um treinador no qual se pudesse apoiar, tendo em conta o falhanço de Roger Schmidt, não só nos resultados, mas sobretudo nas exibições e na relação com os adeptos encarnados. Bruno Lage precisava urgentemente de um convite que sustentasse a sua pertença a uma elite de treinadores, depois de saídas sem brilho de Benfica, Wolverhampton e Botafogo. Ambos, apoiados um no outro, encontraram o que pretendiam nesta semana onde o Benfica volta a ter um treinador que fala diretamente ao coração dos seus adeptos e o presidente espera ter por aí um ano mais sossegado para basear a sua recandidatura.
Da passagem e da saída de Benfica, Wolves e Botafogo, Bruno Lage está obrigado a ter aprendido algo que lhe permita, hoje, ser um melhor treinador.
Para Bruno Lage, no entanto, não haverá direito a estado de graça. O treinador que entra no Benfica não fez esquecer os maus resultados que também contribuíram para a sua saída. Sendo certo que muitos quiseram, nos últimos dias, apenas lembrar o que de bom aconteceu na primeira passagem de Lage pelo comando técnico do Benfica, o que é certo é que o treinador acabou por falhar três vezes seguidas na gestão do crescimento de exigência nos clubes onde passou. Da passagem e da saída de Benfica, Wolves e Botafogo, Bruno Lage está obrigado a ter aprendido algo que lhe permita, hoje, ser um melhor treinador.
“Não havia alternativa”
Se é certo que alguns olham para os últimos dias e encontram uma campanha para a promoção de Bruno Lage ao comando dos encarnados, parece-me mais evidente que a própria estrutura encarnada assumiu a escolha como não havendo alternativa. O Benfica precisava de uma cara reconhecida, que sugerisse comodidade ao seu presidente e oferecesse disponibilidade imediata e total para pegar no “plantel de qualidade” que Rui Costa anunciou no dia em que despediu Roger Schmidt. Olhando para o mercado, esta era a opção que saltava à vista e alguns dos jogadores que com Bruno Lage trabalharam no Benfica estiveram disponíveis para saudar o hipotético regresso.
A verdade é que não havia como influenciar alguém que nunca esteve disposto a arriscar nada.
No entanto, a verdade é que não havia como influenciar alguém que nunca esteve disposto a arriscar nada. Rui Costa não arriscou em fazer o corte com o passado quando formou uma lista para presidir ao Benfica. Não arriscou nem nos nomes que conseguiu cativar para essa lista. Se a contratação de Roger Schmidt deixou a ideia de uma aposta numa renovação da forma de trabalhar dos encarnados, essa aposta não foi consubstanciada nem nas contratações, nem na gestão do plantel que foi feita ao longo das últimas duas temporadas. Simplesmente Rui Costa não arriscou em nenhum momento desde que se tornou presidenciável para os encarnados. Com Bruno Lage, cumpre mais um passo da sua estratégia de manter as águas o mais tranquilas possíveis. O que lhe fere os planos é que o conforto do presidente raramente é a melhor cartada para o sucesso desportivo de um clube com a dimensão do Sport Lisboa e Benfica.