Contra o treinador
Das coisas que aprendemos na décima jornada da Liga Portuguesa. Como saem treinadores e o que se espera de nova jornada europeia.
Mesmo que as exibições nem sempre sejam convincentes, as vitórias dos grandes continuam a expressar um desequilíbrio largo na Liga Portuguesa, onde a competitividade se poderá traçar nos encontros entre estes conjuntos. O Sporting viu Gyokeres, com quatro golos, e Franco Israel, com um punhado de defesas decisivas, criar uma goleada frente ao Estrela, da mesma forma como o FC Porto resolveu cedo a vantagem e fechou tarde uma goleada com Galeno a voltar a estar em evidência. O Benfica foi, dos três grandes, aquele que mais terá sofrido para impor a sua superioridade, numa jornada que antecipa testes muito exigentes nas competições europeias e que fica também marcada pelo despedimento de Luís Freire.
O treinador nunca tem razão
Luís Freire pegou no Rio Ave em 21/22 para conquistar o título da Liga 2 e a promoção à divisão principal num contexto onde não podia errar. Em duas temporadas, enfrentou as dificuldades impostas por uma crise financeira que levou à mudança nos comandos do clube, mantendo o Rio Ave como uma equipa capaz de valorizar os seus ativos, com um futebol de identidade e com uma ambição que tem marcado o jogar das suas equipas. Esta temporada, pela primeira vez desde que orienta os vilacondenses, encontrava estabilidade para atacar objetivos na primeira metade da tabela. Nas primeiras dez jornadas perdeu cinco encontros, quatro deles perante Sporting, FC Porto, Benfica e SC Braga. Os empates com Casa Pia e Famalicão, depois de ter perdido também perante o AVS, terão levado ao fim de linha para Luís Freire no clube.
Quebra uma relação de confiança com o líder do seu projeto desportivo, um recado que também pesará para quem vier a ocupar este lugar.
A verdade é que o treinador nunca tem razão. Quando encontra forma de aguentar um barco com fragilidades notórias na construção do plantel ou com impossibilidade de transferir jogadores, apontam-se-lhe as limitações no seu trabalho. Quando não consegue encaixar nas ambições de crescimento das direções ou dos adeptos, acaba por ser culpado de não tirar o melhor do grupo que está a ajudar a formar. O Rio Ave tem hoje a certeza que a missão do treinador que se segue será muito mais fácil do que a missão que Luís Freire cumpriu ao longo destes anos. Essa será a melhor garantia do que foi o trabalho de Freire, que pelas suas características e sucesso acumulado, não deverá demorar a encontrar novo trabalho. A decisão da demissão do treinador pode ser uma opção estratégica do Rio Ave, para pescar no mercado um ativo desejado por outros clubes. Uma jogada de antecipação. Mas quebra uma relação de confiança com o líder do seu projeto desportivo, um recado que também pesará para quem vier a ocupar este lugar.
Não há adeus perfeitos
A conferência de imprensa de Rúben Amorim e Frederico Varandas, depois do jogo com o Estrela da Amadora, pretendeu definir a história da despedida do técnico do Sporting. O técnico revelou que já tinha decidido no final desta temporada, que o Manchester United é o clube e o contexto que desejava para o seu passo seguinte, que cumpriu com a sua palavra e a sua consciência. Frederico Varandas defendeu os interesses do Sporting e anunciou que o anúncio de 11 de novembro será apenas uma antecipação do que já estava a ser preparado. A história é simples e a forma como foi gerida criou ondas de choque que só mais tarde conseguiremos avaliar na sua totalidade. Mas, independentemente dos resultados, a tensão com que se viveu em Alvalade ao longo da última semana e a maneira como estes compromissos até 10 de novembro se vão transformando num Amorim Tour rumo a Manchester em nada parecem beneficiar o Sporting.
Quando sair Rúben Amorim, sai a pessoa mais forte de toda a estrutura do Sporting e todo um reequilíbrio dessa mesma estrutura irá iniciar-se.
A decisão de Frederico Varandas procurou sair a ganhar em vários campos. Por um lado, podendo anunciar que vendeu um ativo acima do valor da cláusula. Por outro, mantendo-o a dar a cara várias vezes pela sua opção, expondo o treinador à decisão que tomou e deixando a sua figura em segunda linha, longe de análises e críticas. Finalmente, procurou defender João Pereira, oferecendo-lhe alguns dias de trabalho e uma entrada em cena com um jogo frente ao Amarante para a Taça de Portugal. Utilizar um momento de choque para se fortalecer, é uma maneira inteligente de sair a ganhar. Mas para o fazer, Varandas também alargou as ondas de choque dentro do seu plantel e na forma como os adeptos lidaram com esta situação. Uma coisa é certa, e mais tarde voltaremos ao assunto. Quando sair Rúben Amorim, sai a pessoa mais forte de toda a estrutura do Sporting e todo um reequilíbrio dessa mesma estrutura irá iniciar-se.
Testes sérios ao domínio na Liga Portuguesa
Ganhar, e com vantagens largas, na Liga Portuguesa tornou-se norma, mas chegam agora testes sérios aos grandes nas competições europeias. O Sporting encontra um Manchester City que chega de duas derrotas, algo totalmente anormal na vida de Pep Guardiola em Inglaterra, explicável pelo número de ausências por lesão e pela quebra de forma de referências na equipa. No entanto, não deixam os Cityzens que ser um compromisso que colocará à prova o nível de jogadores que o Sporting apresenta como potenciais reforços para a elite europeia. O Benfica volta a ter na Europa um momento de questionamento sobre o aparato tático de Bruno Lage, porque apesar de ser um jogo onde o resultado não oferece pressão, a exibição e a demonstração de capacidade competitiva estará sobre alargada análise.
Fora da Liga dos Campeões, o FC Porto tem o maior desafio, na deslocação ao terreno da Lazio de Roma. Os italianos só têm vitórias na prova e chegam demonstrando favoritismo num território onde Vítor Bruno ainda tem galões a demonstrar. Porque é na Europa que o projeto de reconstrução dos azuis e brancos ainda tem que comprovar pertença. O SC Braga, no terreno do Elfsborg, não pode voltar a falhar, ou ficará irremediavelmente distante de um possível apuramento para a fase seguinte. Finalmente, na Liga Conferência, espera-se que o Vitória continue a demonstrar a segurança que o tem feito parecer-se muito com um candidato a chegar bem longe na competição.
Sugestão de leitura
O
escreve no e conta-nos uma interessante história de como o que acontece fora do campo “retirou” um prémio a Johan Cruyff.
Obrigado!